CODEX n° 14/15 – Não está sendo fácil
Que semana! Até quando vai essa loucura? A coisa está tão doida que não consegui mandar a news da semana passada e a dessa semana vai bem atrasada. Peço desculpas, mas não está sendo fácil! Espero que não aconteça novamente.
E aí, como vocês estão se virando? Acho que 2020 já deu, né? Pode começar 2021? Abri uma nova thread para quem quiser compartilhar um pouco das angústias, percepções e experiências neste momento sem precedentes.
Na startuplândia, tudo continua movimentado, por enquanto. Claro que, assim como em todos os outros setores, os impactos vão depender do tempo que a pandemia e as medidas tomadas para combatê-la se estendam. A tendência é que as coisas só se acalmam lá pra Maio/Junho. Em termos de economia, as previsões já são de um ano perdido, sem chance de uma retomada no segundo semestre, infelizmente. Quem recebeu aporte em dólar recentemente deve estar feliz com o dólar a R$ 5. Mas é aquele sorriso amarelado de nervoso.
À primeira vista, startups voltadas ao B2B tendem a sofrer mais, principalmente as que atendem pequenos negócios, que têm menos disponibilidade de caixa para segurar momentos de dificuldade – nem todo mundo tem US$ 9 bilhões à disposição como a AB InBev. Quem está no B2C também pode sofrer com as pessoas eventualmente perdendo emprego ou ficando receosas em gastar dinheiro.
Aplicativos de entrega como iFood, Uber Eats, Rappi e James Delivery (que pertence ao Pão de Açúcar) parecem se beneficiar já que, ficando em casa em quarentena, as pessoas vão querer pedir comida e outros itens – minhas compras chegam amanhã pela manhã. A questão é: será que essas empresas estão preparadas para atender um surto repentino de demanda? A ver.
Para dar um pouco de otimismo no home office, vamos de Bob Marley: Every little thing is gonna be alright! (em uns dois ou três meses)
Boa leitura e muita paciência e calma nos próximos dias!
Aquisições
A OLX comprou o Grupo Zap (criado em 2017 com a união do Zap e do VivaReal) por R$ 2,9 bilhões. A operação será paga em dinheiro por meio de um aumento de capital feito pelos sócios da OLX no Brasil, a Prosus (braço de serviços de internet da sul-africana Naspers) e a norueguesa Adevinta. O negócio precisa se aprovado pelo Cade e a expectativa é que isso aconteça no segundo semestre. O negócio esquenta ainda mais a briga no setor imobiliário brasileiro, que tem Loft e QuintoAndar bem capitalizadas e é emblemático porque é um dos maiores exits da história do mercado de venture capital na América Latina – junto com a venda da DiDi e a abertura de capital da Stone. O Grupo Zap não virou o unicórnio que todo mundo imaginava que ele seria, mas, ainda sim, foi um negócio importante para os sócios e para o mercado.
Depois de demitir metade de seus funcionários, a Grow Mobility anunciou a venda para o fundo mexicano Mountain Nazca, que se especializou em operar companhias encrencadas - eles já tinham comprado as operações do Groupon na América Latina e do Peixe Urbano. É um recomeço para a companhia que tinha tudo para se dar bem, mas se perdeu com disposta de poder entre os sócios controladores mexicanos (que vieram da Grin) e os brasileiros da Yellow.
Rodadas de investimento
A AoCubo, que faz um robô de atendimento que conecta corretores e compradores de imóveis, recebeu uma rodada Seed de R$ 1,2 milhão que teve como investidores Simon Baker e Brian Requarth, cofundadores do portal Viva Real.
A NEX Energy, startup curitibana que oferece créditos de energia gerada por usinas de energia renovável para pequenas e médias empresas, recebeu um aporte de R$ 1 milhão de um grupo de investidores que inclui a Blintor Capital.
Com 17 anos de atuação no mercado de software para gestão de condomínios, a Superlógica, de Campinas, levantou sua primeira rodada de investimento com o fundo de private equity Warburg Pincus. A operação teria avaliado a companhia em R$ 800 milhões. Os R$ 300 milhões captados serão usados para investimento em inteligência artificial, contratações (300 pessoas) e aquisições. A meta é chegar a uma receita de R$ 200 milhões em 2020.
A Facilita, que desenvolve um aplicativo de mesmo nome voltado a transações no mercado imobiliário, recebeu um aporte de R$ 2 milhões da Soluti, umas das principais vendedores de certificados digitais no Brasil. O aplicativo é usado por mais de 23 mil corretores de 140 incorporadoras, presentes em 21 estados brasileiros. A empresa tem apresentado um aumento de receita recorrente mensal (MRR) de 90% nos últimos 12 meses.
A curitibana Fretefy, de gestão de logística, recebeu um aporte de valor não revelado do grupo Lorinvest, que atua no setor de infraestrutura. Com os recursos a companhia pretende ampliar sua atuação na região Sul e também expandir para o Sudeste e o Centro-oeste.
A Kangu, que nasceu em 2019 e opera uma rede de pontos de coleta para empresas de comércio eletrônico (os compradores mandam suas encomendas para a rede cadastrada no serviço que conta atualmente com 700 pontos), levantou uma rodada de investimento seed de R$ 6 milhões com o fundo argentino NXTP Ventures.
A DOMO Invest fez um aporte de R$ 2 milhões na Job For Model, startup que conecta empresas a modelos e promotores e desenvolveu uma ferramenta para medir o impacto de ativações, a AtivUp, que atualmente atende 11 marcas. A meta é triplicar a receita em 2020, chegando a R$ 15 milhões.
Captação de fundos
O fundo de investimento voltado à inclusão financeira em mercados emergentes Quona Capital - que no Brasil investe em empresas como Contabilizei e Kovi - concluiu a captação de seu segundo fundo, de US$ 203 milhões. A meta original era levantar US$ 150 milhões.
A Telefónica Innovation Ventures (TIV), fez um aporte de valor não divulgado no fundo 2 da Redpoint eventures. O investimento faz parte de um novo ciclo de apostas do grupo em startups. A primeira fase foi de 2012 a 2018.
Junto com o anúncio do aporte na Redpoint, a Wayra, que era uma aceleradora e agora se transformou no hub de inovação aberta da operadora, anunciou que aumentou o valor dos aportes em startups no Brasil para R$ 1 milhão, o dobro do patamar anterior.
A Housi, levou seu fundo de investimento imobiliário para a bolsa (código HOSI11). O total captado foi de mais de R$ 57,3 milhões.
O fundo de early stage Magma Partners concluiu a captação de seu terceiro fundo, de US$ 50 milhões. Entre os investidores está o IDB lab, o laboratório de inovação do Banco de Desenvolvimento Interamericano, que colocou US$ 4 milhões. OS cheques do Magma ficam na faixa de US$ 50 mil a US$ 100 mil para empresas em estágio seed e vão de US$ 5 milhões a US$ 7 milhões para rodadas maiores.
Dança das cadeiras
A Rappi contratou, para presidir sua operação no Brasil, Sergio Saraiva, executivo que já trabalhou em empresas como Cielo e Ambev, onde atuou como vice-presidente Executivo e diretor em áreas de Tecnologia, Gestão e Pessoas, e como líder de Projetos de Transformação Digital. A companhia também trouxe para tocar o dia a dia da operação Simmon Nam, que já passou pelo QuintoAndar e pela 99. No âmbito regional (ou global como eles dizem) a companhia contratou Ana Bógus, que tem passagens por Nestlé e Kimberly-Clark, para liderar a área de CPG (Consumer Package Goods).
Um mapeamento feito pela Whow! contou 20 empresas recebendo investimento no mês de fevereiro, com 5 aquisições.
Outras notícias
Rappi, iFood, 99 e Uber anunciaram medidas para ajudar entregadores que sejam diagnosticados com o novo coronavírus e precisem se afastar do trabalho.
A 99Food, braço de entrega de comida da 99 lançado no fim de 2019, deu detalhes de seus planos.
A Resale vai lançar um portal exclusivo para a revenda de imóveis que o Banco do Brasil retoma de clientes por inadimplência. Serão 1,6 mil unidades – sendo a maior parte casas (61%) e apartamentos (33%). O desconto médio será de 42% em relação ao valor de avaliação, mais que os 30% praticados normalmente. O estoque de imóveis retomados é um grande problema para os bancos, com um estoque entre 90 mil e 100 mil unidades.
A InstaCarro está operando com quatro lojas dentro de contaniers na região metropolitana de São Paulo (Extra Morumbi, São Caetano, São Bernardo e Osasco). Atá o fim do ano a empresa pretende ter 20 lojas.
A MadeiraMadeira abriu sua primeira loja física na cidade de Curitiba.
Depois de estrear na Argentina, o Nubank lançou seu cartão de crédito roxo no México.
Recém-chegada à América Latina, a ClassPass comprou a chilena MuvPAss e a argentina ClickyPass.
Endereço de muitas startups, os coworkings movimentam R$ 127 milhões, segundo estudo da Coworking Brasil. Em 2019 o crescimento do mercado foi de 25%, chegando a 1.497 unidades em 195 municípios do país. Só no estado de São Paulo, foram registrados 198 novos espaços.
A Y Combinator marcou para maio uma vinda ao Brasil para entrevistar cerca de 100 startups. A ideia é captar nomes para o batch de aceleração do meio do ano, programado para junho. (Bom, pelo menos esse era o plano antes da loucura do novo coronavírus).
O Uber lançou seus patinetes elétricos na cidade de São Paulo. Em um primeiro momento, não há nenhum custo para desbloquear o veículo, e o minuto de uso custa R$ 0,90. A companhia também fez sua estreia em Santiago, no Chile, mas nesse caso, com sua marca de micromobilidade, a Jump (talvez porque a marca Uber por lá não seja tão forte por conta da briga com os taxistas.
A Kovi, de aluguel de carros para motoristas de aplicativos, atingiu a marca de 6 mil motoristas em sua base.
Em uma nova derrota na Justição Trabalhista para a Rappi, a 14ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região (TRT-2) reconheceu que existe vínculo empregatício entre um entregador e o aplicativo. Ainda cabe recurso, mas é curioso que a Rappi sofra esse reveses enquanto Uber e iFood não parecem sofrer tanto.
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A First Round Capital, que investiu em empresas como o Uber, perguntou a 529 fundadores (antes de todos os problemas com o novo coronavírus) o que eles pensavam sobre o futuro da inovação. Post do Florian Hagenbuch, no LinkedIn.
O Felipe Matos fez um estudo patrocinado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), sobre o ecossistema de startups no Brasil.
Como estão as fintechs ao redor do mundo? Ou melhor, como estavam até antes da loucura do momento. A CB Insights fez esse levantamento com o Global State of Fintech. Mas já precisava atualizar.
O Global Fund Performance Report, do Pitchbook, referente ao segundo trimestre de 2019, traz informações sobre a alocação de capital privado em private equity e venture capital. Spoiler: os valores totais caem mas os retornos se mantêm positivos.
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