CODEX n° 19 - Brace for impact
Quer acompanhar o que acontece no mundo das startups e do venture capital no Brasil mas não tem tempo? O CODEX combate essa sensação de FOMO com um compilado do acontece toda semana
Mais uma semana de isolamento. Como vocês têm passado?
No mundo das startups os efeitos da parada na economia estão começando aparecer de forma mais evidente. Os cortes estão acontecendo em mais companhias aqui no Brasil – e também nos EUA - e o ritmo de aportes dos fundos caiu assustadoramente. A conversa com quem já está nos portfólios é para reduzir a queima de caixa e se preparar para um longo período de poucos recursos novos.
Mas nem tudo é fim do mundo. Dois anúncios de rodadas de investimento foram feitos: AgroPro e Cargo X. São acordos que já vinham sendo negociados, ou já estavam fechados, mas que foram divulgados semana passada. Há um fluxo de negócios passados ainda acontecendo, o que deve fazer com o mercado não seque completamente. Pelo menos por enquanto.
Até porque, os fundos – também os de corporate venture - estão dizendo que continua existindo intenção de fazer mais negócios - com cheques menores, obviamente.
Aliás, se você conhece alguém que foi demitido, ou que já estava procurando empregado mesmo antes do furacão, uma iniciativa legal lançada nos últimos dias é o Job Viral.
Boa leitura e boa semana!
Novos rumos
A Omie, que faz um sistema de gestão voltado a empresas de pequeno e médio portes – e que tem uma joint venture com outras quatro para um sistema voltada a contadores – mudou sua orientação em uma semana por conta do novo coronavírus, voltando-se também a clientes de maior porte, reforçando a disputa com a Totvs e eventualmente entrando nos territórios de SAP e Oracle.
Para fazer a mudança, a companhia que captou R$ 80 milhões de fundos como Riverwood e Astella em seus sete anos de história, demitiu 136 pessoas, passando a 303 funcionários.
Tá, mas e daí? A adaptação rápida a novos cenários não é exatamente uma novidade para empresas iniciantes. Na busca pela batida perfeita os negócios costumam mudar bastante, especialmente nos primeiros anos de existência. Em um momento tão surreal e sem precedentes como o atual, essa capacidade tem sido acionada de hora em hora. E diversos exemplos estão aparecendo por aí. Descobrir um novo rumo em um momento de tanta pressão não é fácil. Mas pode ser uma oportunidade para explorar caminhos que antes não pareciam fazer sentido. Quem conseguir fazer essa virada da forma correta terá mais chance de sobreviver para contar sua história quando a tempestade passar.
Bitch Better Have My Money
O BNDES estuda formas de incluir as fintehcs nos esforços de estímulo à economia.
São três frentes de atuação: que elas atuem como operadoras de recursos da instituição, como os bancos fazem; fazer investimentos nas companhias (o BNDES já é o maior investidor de venture capital no Brasil) e oferecer linhas de crédito específicas.
A expectativa é que as conversas ainda se alonguem por mais duas semanas.
Tá, mas e daí? O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse que o dinheiro que o governo liberou para que o sistema financeiro pudesse continuar concedendo crédito está ficando empoçado. Sob a justificativa do aumento no risco, as instituições estão sendo mais restritivas e aumentando o custo dos empréstimos. Até aí, nada exatamente ilegal, mas em um momento como esse, uma atitude desse tipo cai na categoria do imoral. Daí o regulador precisa agir como árbitro, promotor de alternativas.
A fome do iFood
O iFood anunciou uma joint venture com a alemã Delivery Hero na Colômbia, terra natal do Rappi. Pelo acordo, a operação local vai se juntar com a Domicilios.com em um novo negócio controlado pelo iFood (51%). Não está claro qual marca será mantida, mas pelo histórico de aquisições do iFood, sua marca principal costuma prevalecer.
Tá, mas e daí? O negócio pode ser visto tanto quanto um passo adicional na estratégia de expansão do iFood, quanto como uma afirmação da Delivery Hero de que operar na América Latina é mais difícil do que eles poderiam querer e é melhor se concentrar nos negócios em casa. De qualquer forma, o movimento representa, talvez o passo mais agressivo da companhia na disputa com a Rappi até o momento.
Combate ao novo coronavírus
A VTEX anunciou um acordo com a PayU e a Elo para que pequenos e médios empreendedores possam criar lojas virtuais
O Uber vai custear a viagem de doadores que queriam se deslocar para bancos de sangue. A medida faz parte do compromisso anunciado pelo CEO da companhia, Dara Khosrowshahi, de fornecer em todo o mundo 10 milhões de viagens e entregas de alimentos gratuitas para profissionais de saúde que atuam na linha de frente, idosos e pessoas em necessidade durante a pandemia. No Brasil, o apoio começou pelo Rio, Belo Horizonte, Fortaleza e Teresina e será ampliado para novas cidades nas próximas semanas.
A companhia também anunciou a ampliação do Uber Eats para Empresas, que permite que empresas enviem refeições para seus funcionários. Começando pelo Brasil, Canadá, França e o Reino Unido, 20 países vão receber o serviço em 2020.
O fundador e presidente do Twitter e da Square, Jack Dorsey, disse que vai doar US$ 1 bilhão - o equivalente a 28% de sua fortuna pessoal – para um fundo criado por ele, o StartSmall, para ajudar no combate ao vírus – e depois de passado todo o tumulto, na educação de meninas.
O Nubank disse que segue ampliando seu quadro de funcionários mesmo em meio à pandemia. Desde meados de março foram 85 profissionais admitidos - e mais contratações estão previstas. O neobank anunciou em março que não pretendia fazer demissões em massa em meio à turbulência trazida pelo novo coronavírus.
A Mutual, de empréstimos entre pessoas, lançou a campanha #InvistanoPequeno, para estimular fundos de investimento e pessoas físicas a emprestarem dinheiro para trabalhadores informais que estão sem trabalhar no período de isolamento social. O valor máximo dos empréstimos é de R$ 1.000 com juros de 1% ano e primeira parcela com vencimento após 90 dias da solicitação.
Rodadas de investimento
Na edição passada eu disse que as rodadas no Brasil viriam essa semana. E elas vieram...
A AgroPro, que faz um sistema de gerenciamento de lavouras, recebeu R$ 1 milhão do fundo M3 VC5, gerido pela TM3 Capital (do Marcel Malczewski, fundador da Bematech). A ideia é investir em tecnologia.
A Cargo X levantou mais US$ 80 milhões, somando US$ 176 milhões captados em cindo rodadas. O aporte foi liderado pelo fundo LGT Lightstone Latin America e teve participação de outros que já investem na companhia, como Goldman Sachs Growth Equity, Valor Capital e Farallon Capital. Os recursos serão usados para a companhia atingir a meta de dobrar o número de transportadores em 2020. Atualmente, são 20 mil empresas e 400 mil caminhoneiros cadastrados no serviço.
Lá fora, o Airbnb (que estava na cara do gol para um IPO agora no primeiro trimestre, mas teve que adiar seus planos) levantou US$ 1 bilhão em dívida e participação acionária com os fundos Silver Lake e Sixth Street Partners.
Captação de (dos) fundos
O fundo Index Ventures (que investiu em empresas como Criteo, Codeacademy, Facebook, TransferWise e Dropbox) levantou US$ 2 bilhões para investir em fundadores que vão criar novos produtos e serviços para o mundo pós-Covid-19.
Os fundos de venture capital nos EUA têm aproximadamente US$ 150 bilhões para fazer novos aportes. Metade desse “dry powder”, como se diz no vocabulário do mercado, deve ser reservada negócios novos e a outra metade para investimentos subsequentes nos portfólios. Se o ritmo de investimentos não cair, o montante é suficiente para um ano de atividade.
Outras notícias
Em entrevista à Forbes, Masayoshi Son, fundador da SoftBank afirmou que das 88 empresas investidas pelo seu Vision Fund, 15 (ou 17%) vão falir.
E por falar em SoftBank, a empresa recebeu um processo de US$ 1 bilhão por parte do WeWork. A ação é uma resposta à decisão do grupo japonês de não mais comprar US$ 3 bilhões em ações da empresa de seu portfólio como parte do plano de salvamento do negócio.
A Constellation Software, um grupo de software canadense que se notabilizou por crescer por meio de aquisições (foram mais de 350 desde sua fundação, em 1995), fez sua oitava compra no Brasil. O alvo dessa vez foi a lawtech Kurier. A operação aconteceu por meio da Vela Software.
Tem a ver com o momento de combate ao novo coronavírus, mas também faz parte da estratégia de crescimento, então acho que vale mais a pena falar aqui. O Cabify se juntou à Ebanx para lançar uma nova categoria de entregas. Os motoristas do aplicativo vão receber pedidos de pequenos comerciantes. A ideia é incluir supermercados, farmácias e restaurantes, que estão com grande demanda no momento.
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A Wayra, da Telefónica, fez um levantamento com as startups de seu portfólio global para avaliar o impacto da pandemia em seus negócios.
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