CODEX n° 18 - You better shape up
Quer acompanhar o que acontece no mundo das startups e do venture capital no Brasil mas não tem tempo? O CODEX combate essa sensação de que você está perdendo alguma coisa com um compilado do aconteceu nesse mercado.
Ao contrário de outros momentos de turbulência, em quem as startups navegaram na contramão do restante do mercado, o momento atual terá sim um impacto relevante nas companhias iniciantes.
Os efeitos já estão sendo sentidos na queda no número de novos investimentos anunciados e agora, chegaram ao ponto das demissões. MaxMilhas e Gympass foram as primeiras com cortes em grande escala. Nas próximas semanas, mais anúncios de grandes nomes e de negócios mais iniciantes irão surgir com os fundadores tentando esticar ao máximo o caixa que ainda tiverem à disposição.
Um webinar feio pelo Júlio Vasconcelos no fim da semana passada com pesos pesado do mercado de venture capital levantou alguns pontos sobre o que está acontecendo agora e o que pode acontecer nos próximos meses. Vale a pena assistir. Resumo: os dias e dinheiro fácil acabaram, pelo menos por enquanto.
De resto, as ações de empresas para combater os efeitos do novo coronavírus continuaram a aparecer. O pacote de medidas de R$ 5 bilhões proposto pelas fintechs ao governo também chamou atenção. E em meio a todo o caos, a Movile anunciou a sucessão de seu comando, com Patrick Hruby assumindo o comando da operação no lugar de Fabricio Bloisi, que passou a se dedicar ao iFood e também assumiu a presidência do Conselho da Movile.
Boa leitura e boa semana. Mantenha-se saudável... e são!
Cash is king
Em uma postagem no LinkedIn, o fundador e presidente da MaxMilhas, Max Oliveira, lamentou ter tido que fazer um corte em sua equipe como efeito da parada no mercado de turismo como efeito do novo coronavírus. Também na rede, diversos profissionais se despediram da Gympass. A redução no quadro foi confirmada à PEGN.
Tá, mas e daí? As startups iam mudar o mundo, e agora, como qualquer outro negócio, precisam lutar para se salvar. Para isso, é preciso ter condições de pagar as contas. Com as receitas prejudicas e a dificuldade em captar novos recursos de investidores e dos bancos (o crédito está beeemm mais caro), a maior parte dos negócios só tem como opção esticar o dinheiro que têm na conta – no caso das empresas que ainda têm algum, claro. Com a duração e a extensão dessa crise ainda incertos, renegociações de contratos, mudanças de modelos de negócios e demissões entram na pauta.
Sob nova direção
Patrick Hruby, que chegou à Movile em outubro vindo do Facebook, assumiu o comando da companhia. Fabrício Bloisi, que sempre ocupou o cargo, e desde novembro, acumulava também a presidência do iFood, vai agora se dedicar apenas ao aplicativo de entregas.
Bloisi, que é o maior acionista individual da companhia controlada pela Prosus – o braço de serviços digitais da sul-africana Naspers – ainda assumiu a presidência do conselho do grupo.
Tá, mas e daí? Com o iFood assumindo o papel de negócio mais importante para a Movile – é um papel de destaque dentro da Prosus, faz sentido que o fundador do grupo, e super-otimista de plantão, assuma as rédeas da operação. Hruby tem passagem pelo Google e pelo Facebook, e vinha sendo preparado para assumir uma posição de destaque desde que chegou na companhia. O cargo que ele tinha, aliás, de “executive in residence”, já mostrava que ele estava endo preparado para uma posição de destaque, conhecendo todas operações do grupo. A dúvida é se não teve gente dentro da operação enciumada por não ganhar a posição...
Show me the money
Por meio da ABFintehcs, as companhias em operação no Brasil entregaram ao Banco Central um pedido de R$ 5 bilhões ao setor. As medidas incluídas no pacote trariam como efeito mais recursos para pequenas empresas e médias empresas afetadas pela pandemia
No fim de março, o regulador já tinha lançado algumas medidas para melhorar a vida das fintechs reguladas, que operam sob os modelos de Sociedade de Crédito Direto (SCD) e Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), que passaram a poder emitir cartões, repassar recursos do BNDES e vender suas carteiras para um número maior de investidores.
A ideia agora é aumentar o alcance das medidas.
Tá, mas e daí? Na semana passada (CODEX n° 17) falei sobre a necessidade de um olhar para as fintehcs, para garantir mais competição e acesso ao sistema financeiro neste momento. A questão é se a boa vontade apresentada nos últimos anos vai se manter agora.
Combate ao novo coronavírus
A mineira Zumpy, de caronas compartilhadas, investida da Bossa Nova, parou suas atividades, ma vai continuar pagando 50% do valor das rotas para os motoristas para não deixá-los sem renda nesse período.
Liderados pelos irmãos Victor e Arthur Lazarte, fundadores da Wildlife, e por Florian Hagenbuch e Mate Pencz, fundadores da Loft e do fundo Canary, investidores e outros fundadores lançaram a campanha Tech for Good, para doar máscaras de proteção ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). A meta é levantar, até 17 de abril, recursos para comprar 3 milhões de unidades. Metade doesse montante já foi captado com os membros iniciais da campanha.
A empresa do setor de beleza Salon Line começou a doar parte de sua produção de álcool gel para os entregadores da Rappi.
O Rappi se juntou ao movimento, "Corona no Paredão", da ONG Gerando Falcões. A proposta é doar “cestas básicas digitais” a quem mora em comunidades carentes. Para isso, basta procurar o botão ‘Doe Agora’, dentro do aplicativo. As contribuições podem variar entre R$ 5 e R$ 2mil. As doações serão feitas por meio de cartões que serão recarregados com R$ 100 a cada três meses (de abril a junho).
Ainda falando em Rappi, a companhia disse que vai isentar o aluguel pago pelos restaurantes que usam suas dark kitchens. O abono vale para o mês de abril. O aplicativo tem 100 dark kitchens operando em capitais brasileiras.
O iFood reforçou seu fundo de antecipação de recebíveis para restaurantes com R$ 2,5 bilhões vindos de um acordo com o Itaú e a Rede (que pertence ao banco).
Dentre as medidas anunciadas para combater os efeitos da pandemia sobre a economia, o Governo criou um novo formato de abertura e fechamento de empresas, o Inova Simples. O depósito de pedidos de marcas e patentes também foi facilitado. Empresas já existentes não podem pedir para mudar para este regime, mas empresas I.S. podem migrar para outras modalidades.
O GetNinjas teve que fazer um ajuste em seu modelo de negócios já que as pessoas estão com limitação de circulação e contato com outras pessoas. Assim, prestadores de serviços como encanadores, eletricistas e de assistência técnica de eletroeletrônicos, poderão fazer um primeiro atendimento remoto aos clientes. A ideia é deixar as visitas presenciais para casos mais urgentes.
Rodadas de investimento
Os negócios em venture capital estão começando a acontecer de novo na China, depois de um congelamento por conta das medidas de combate ao novo coronavírus no país. Na semana encerrada no dia 28 de março, foram 66 operações, segundo o PitchBook. O maior número do ano de 2020. Ainda não dá pra comemorar porque uma segunda onda de contágio pode atingir o país, trazendo de volta as medidas de restrição de movimentação.
Aqui no Brasil, bom, quem sabe semana que vem...
Outras notícias
As medidas de isolamento mudaram o perfil de uso da internet do brasileiro. Se há algumas semanas o tráfego era menor durante o período comercial e atingia o pico perto das 21h, agora, a distribuição está mais uniforme ao longo do dia, segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br. Não há, por enquanto, sintomas de sobrecarga na rede.
Três semanas depois de ser vendida para o fundo Mountain Nazca (ou só para o ex-sócio do fundo, Felipe Henriquez?), a Grow – que voltou a ser chamada de Grin - lançou o Grin4U, um plano de aluguel mensal de patinetes e bicicletas com uso ilimitado. O valor cheio é de R$249 para patinetes e R$129 para bicicletas. Mas no mês de lançamento, sairá por R$199 para patinetes e R$99 para as bicicletas. Para profissionais que prestam serviços essenciais, o valor é de R$99 para os patinetes e de R$49 para as magrelas. Os assinantes receberão um capacete - que não precisa ser devolvido no fim do contrato. Os equipamentos serão entregues na casa do usuário.
O WeWork vendeu a Meetup, de eventos, para um consórcio de investidores liderado pela AlleyCorp. O valor da operação não foi revelado, mas, segundo a Forbes, foi bem menos que os US$ 156 milhões pagos em 2017. Seja quanto for, é um reforço de caixa importante para a companhia já que a SoftBank disse que não vai concretizar a compra de US$ 3 bilhões em ações que tinha prometido fazer dentro do pacote de salvamento da companhia (também para reforçar seu caixa?).
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O fundo Sequoia Capital publicou uma matriz de cenários que podem vir como efeito do novo coronavírus e o tamanho dos cortes de despesas a serem adotados por startups.
Como o novo coronavírus está afetando o financiamento das fintechs? O CB Insights traz alguns... insights.
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