CODEX n° 17 – A caravana não pára
Quer acompanhar o que acontece no mundo das startups e do venture capital no Brasil mas não tem tempo? O CODEX combate essa sensação de que você está perdendo alguma coisa com um compilado do aconteceu nesse mercado.
A semana passada foi marcada, mais uma vez, pelas iniciativas lançadas por startups para ajudar empresas e também profissionais afetados pelo atual cenário. Esse será o tom pelas próximas semanas, certamente. Fique atento às listas que têm circulado por aí.
Os anúncios de novas rodadas de investimento deram uma secada, como já era esperado. Mas a expectativa é que os recursos, principalmente para empresas em estágio mais inicial (Seed) não seque completamente.
O grande destaque do período foi a venda da Wavy, a parte de negócios com operadoras da Movile - que é a origem da companhia, na verdade -, para a sueca Sinch, por R$ 640 milhões em dinheiro e ações.
O negócio já vinha sendo costurado antes de todo o rolo do novo coronavírus, mas não deixa de sair em um momento oportuno, já que reforço de caixa será bem-vindo!
Boa leitura e bom resto de semana!
Teste pra cardíaco!
As fintechs começaram a surgir no Brasil em 2013 e pegaram um período de turbulência na economia por fatores políticos entre 205 e 2018. Mas o que enfrentarem nesse período nem de longe se aproxima do que está acontecendo agora, por isso, é certo dizer, que este é o primeiro “teste de estresse” dessas companhias.
O cenário é tanto promissor quanto caótico: ao mesmo tempo que podem se firmar como alternativa ao sistema financeiro tradicional - pela demanda por mais serviços digitais e oferecendo acesso a crédito e serviços para quem não tem o perfil de risco que interessa aos bancos, com juros menores – elas também terão dificuldade para captar mais recursos.
Adicione à mistura a falta de políticas que atendam à demanda das companhias – por pouco entendimento desse novo mercado, ou por pressões externas – e o cenário pode ficar complicado.
Tá, mas e daí? O Banco Central vem, nos últimos anos, mostrando boa vontade e compreensão sobre o papel que as fintechs têm no aumento da concorrência no mercado financeiro. A participação das empresas ainda não chegou aos níveis necessários, mas não dá pra perder o que se conquistou até agora sob o risco de demorar muito para conseguir recuperar esse patamar no futuro. Como têm pouco poder de articulação política, as companhias podem não conseguir sentar na mesa dos adultos para fazer suas demandas em meio à grita de quem está mais organizado, por assim dizer.
Wavy nórdica
A Movile anunciou a venda da Wavy, sua divisão de negócios com operadoras. O negócio, que é na verdade a origem da companhia, foi comprado pela sueca Sinch. A operação de R$ 640 milhões foi dividida em R$ 355 milhões em dinheiro e o restante em ações. Eduardo Henrique, um dos fundadores da Movile, assumirá um cargo na empresa sueca. O negócio precisa ser aprovado pelo Cade. A Wavy fechou o período de 12 meses encerrados em 31 de março com receita de R$ 461 milhões e lucro bruto de R$ 130 milhões.
Tá, mas e daí? Com o iFood se tornando seu maior negócio, a Movile parece ter percebido que era hora de seguir o mote do "que te trouxe até aqui não vai te levar adiante". A companhia fez uma virada interessante desde 2012, quando começou a investir em produtos com marca própria, como PlayKids. Depois acertou na mosca ao investir no iFood. Com o caixa reforçado ela terá gás para passar pelo atual momento de turbulência e se firmar em novas áreas, aproveitando novas oportunidades de aquisição que vão aparecer pelo caminho.
Combate ao novo coronavírus
A 99 vai oferecer um total de R$ 4 milhões em vouchers de corridas para Prefeituras de todo o país. A primeira a receber o auxílio (60 mil vouchers) será a da cidade de São Paulo, por meio da Secretaria de Saúde. As corridas não podem estar associadas a atividades que coloquem em risco a saúde e segurança dos motoristas.
O Uber, que tem mais de um milhão de motoristas no Brasil, vai oferecer um plano de saúde da Vale Saúde Sempre a eles, com direito a desconto em consultas e medicamentos e exames laboratoriais e de imagem. A companhia também oferecerá ajuda financeira por 14 dias a quem for diagnosticado com a Covid-19. Motoristas ainda podem pedir auxílio para manter seus carros limpos.
O Nubank vai destinar R$ 20 milhões para bancar serviços como atendimento médico e psicológico remoto por vídeo, pedidos de supermercados e farmácias, entre outros, para seus clientes. De acordo com a companhia os recursos são resultado da redução de custos e de marketing. As demandas serão atendidas pela equipe de atendimento. A iniciativa tem apoio do Hospital Sírio-Libanês, iFood, Rappi, Zee.Dog e Zenklub.
O iFood abriu um novo fundo de R$ 1 milhão para dar suporte financeiro aos entregadores. Os novos recursos serão destinados especificamente a quem tem mais de 65 anos (cerca de 1% do total) e aos que estiverem no grupo de risco, com doenças pulmonares, cardíacas, imunossupressão (inclui HIV), obesidade mórbida, diabetes, insuficiência renal crônica e cirrose. A companhia também vai fornecer plano de saúde e distribuir álcool gel. O anúncio foi feito dias depois de matéria na Folha trazer críticas de entregadores às condições de trabalho.
O Rappi passou a oferecer um mês de uso gratuito de seu serviço Rappi Prime para quem tem mais de 65 anos.
A Loft montou um fundo de R$ 5 milhões para trabalhadores da construção civil impossibilitados de trabalhar em meio à pandemia. Os recursos virão das parcelas pagas por clientes que aceitarem parar suas obras, mas que mantenham seus pagamentos.
A Ebanx lançou o Beep, uma plataforma gratuita que permite que pequenos negócios e profissionais autônomos vendam on-line. Olist e Magazine Luiza apresentaram iniciativas semelhantes.
A Gonew Community, junto com a ABstartups, montou um site para cadastrar e apresentar iniciativas de startups para lidar com esse momento. Já são mais de 179 cadastradas.
Na mesma linha das listas, a Wayra montou uma com as iniciativas de suas startups. O Razões para Acreditar lista diversas outras, não só de startups. E o VC Café traz uma lista global.
A Zygo Tecnologia, de Curitiba, criou o Delivery do Bem, um aplicativo de entrega que não cobra taxas dos restaurantes. As entregas ficam por conta dos estabelecimentos.
Rodadas de investimento
A empresa de segurança Sepio Systems, que faz parte do portfólio do fundo Mindset Ventures – que só investe em empresas fora do Brasil – levantou US$ 4 milhões para investir em sua expansão internacional.
A Sou Smile, de alinhadores dentais, levantou uma rodada Series A de US$10 milhões liderada pelo Global Founders Capital, com participação do Kaszek e da Canary. A companhia de dois anos soma US$ 11,4 milhões captados até agora.
A empresa de software para o setor financeiro Sinqia (antiga Senior Solution) se associou à aceleradora Darwin Startups. A companhia vai colocar entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões para aportes em cerca de 20 companhias, especialmente fintechs. Banco Safra e TransUnion também participarão dos investimentos, somando um total próximo a R$ 5 milhões.
Outras notícias
A Brex, que pretende se tornar o banco dos pequenos negócios nos EUA, fez três aquisições na terra do Tio Sam: Neji, Compose Labs e Landria. A companhia que já levantou mais de US$ 300 milhões foi fundada pelos brasileiros Henrique Dugubras e Pedro Franceschi, que criaram a Pagar.me (mais tarde incorporada pela Stone).
A argentina Karvi, de compra e venda de carros usados, se juntou à brasileira Auto Avaliar para chegar ao país – e reforçanco a briga com InstaCarro e Volanty. As empresas possuem planos de fechar o primeiro semestre com mais de 400 lojas integradas por todo o estado de São Paulo. A operação nas demais regiões brasileiras está prevista para o começo do segundo semestre deste ano. A Karvi levantou recentemente uma rodada que teve participação do fundo inglês Pelham Capital LTD.
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Análise feita pelo PitchBook sobre a influência da Covid-19 no mercado de venture capital nos EUA no 2° trimestre de 2020.
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